20 de agosto de 2013

Calculando a probabilidade da existência de Deus (William Lane Craig)

Traduzido por 
Leandro Duarte

Dr. Craig, sou um leitor de longa data, minha esposa e eu pessoalmente adoramos seu livro "Em Guarda" e meus filhos gostam da série "What is God Like". Minha entediante pergunta nasceu de uma frustrante conversa com um colega ateísta. Ela definitivamente afeta outros ao meu redor, e inclusive a mim, e eu não consigo encontrar nada em seus livros, ou no site, que me ajude a responder à questão de a probabilidade para que Deus exista seja zero.

Ele diz que quando você quer encontrar a probabilidade de um evento ocorrer, simplesmente divide o evento pelo total de todos os eventos. Um exemplo simples seria a da probabilidade de se conseguir 1 ao rolar um dado de seis lados, que no caso seria 1 (o evento que você quer) dividido por 6 (todos os possíveis eventos). Então quando você quer saber a probabilidade de que qualquer deus exista, você simplesmente divide a sua escolha por todos os possíveis outros eventos. Desde que você não tem nenhum prova que indica que qualquer deus é mais provável do que qualquer outro deus, isso te dá um número infinito de possíveis eventos. Então fazendo a probabilidade, você tem 1 dividido por infinito que resulta em zero. Quando questionado que infinito é uma constante incorreta a ser usada ele me respondeu: "Ok, por que o infinito é o número errado a ser usado? Você tem alguma prova para determinado deus que ninguém parece saber? Se não, então como é que nenhum outro deus pode ser igualmente provável? Isso não é ciência profunda, é lógica básica. Como eu não tenho como provar que eles existem, posso criar novos deuses todos os dias. Por definição, quando algo é improvável, possui infinitos conjuntos de casos. Novamente, é apenas lógica básica."

Jason
Estados Unidos


Enquanto sua pergunta levanta algumas questões técnicas da teoria da probabilidade, as quais eu retornarei no fim dessa resposta, com toda franqueza, Jason, dada a sua familiaridade com o Em Guarda e com outros recursos, responder a questão deveria ter sido fácil para você. Olhe a página 161 [edição em inglês] do Em Guarda:

Probabilidades são sempre relativas à alguma informação de fundo... agora o ateu diz que a existência de Deus é improvável. Você deveria perguntá-lo imadiatamente: "Improvável em relação à quê? Qual é a informação de fundo?"... O interessante é que a existência de Deus é provável relativa à completa gama de evidências.

Se você tivesse feito essa pergunta ao seu amigo, descobriria que ele evidentemente não está considerando nenhuma informação de fundo no fim das contas! Parece que ele está falando sobre um tipo de probabilidade absoluta para a existência de Deus Pr (D) desconsiderando qualquer informação de fundo B e evidência específica E. Isso é inútil. Parece que ele está imaginando todas as possíveis deidades que poderiam existir e perguntando, "Quais são as chances a priori de que um desses exista?" Que bobagem! Isso é o mesmo que perguntar sobre a probabilidade de que uma certa pessoa, por exemplo, você, exista, dado um infinito número possível de pessoas que poderiam existir. Ninguém está interessado nesses tipos absolutos de probabilidade. O que queremos saber, ao contrário, é a probabilidade de que você exista ou de que Deus exista relativo à nossa informação de fundo e evidência específica: Pr (D|E & B).

Agora, no "Em Guarda", eu dei quatro argumentos independentes para a existência de Deus que irão te mostrar que Pr (D|E & B) >> 0,5. Assim, você deveria categoricamente rejeitar a asserção do seu amigo de que "você não tem como provar que qualquer deus é mais provável de que qualquer outro deus".(Como você pôde deixar essa passar, Jason? É para isso que esses argumentos servem!) Quando ele pergunta, "Você tem alguma prova para algum deus específico...?" você deveria ter respondido, "Sim, eu tenho evidências relativas a existência de Deus que são bem prováveis." Então ele teria que lidar com seus argumentos. Ele já não pode apelar para sua probabilidade a priori, da mesma maneira que para alguém negar sua existência terá que lidar com a evidência para sua existência. Isso lança uma discussão de argumentos teístas, que é exatamente onde você quer chegar!

Quanto às questões técnicas, quando seu amigo afirma, "Se você não [tem evidências para a existência de Deus], então como é que nenhum outro deus pode ser igualmente provável? Isso não é ciência profunda, é lógica básica." ele está pressupondo uma teoria da probabilidade lógica que é altamente controversa e rejeitada por quase todos os teóricos da probabilidade hoje. Entrei nessa questão na preparação para meu ultimo debate com Michael Tooley alguns anos atrás. Consultei então Timothy McGrew, professor de filosofia na Western Michigan, que escreveu sobre a teoria da probabilidade. Tim me explicou que maioria dos teóricos negaria que a ausência de evidência da probabilidade da existência de Deus possa ser computada, como seu amigo sugere.

É certo que na completa ausência de evidência exista uma certa simetria de ignorância sobre visões concorrentes. Nós não temos dúvidas de que isso é verdade. Mas seu amigo interpreta isso para dizer que opções concorrentes são igualmente prováveis, e isso é falso. Para ver porque, considere uma ilustração feita pelo matemático Peter Walley sobre um saco fechado de bolinhas coloridas. Se você chegasse e pegasse em uma dessas bolinhas, qual seria a probabilidade que a bolinha fosse vermelha? Walley diz:
Uma resposta ingênua é dizer que, porque existem dois resultados possíveis (vermelho ou não-vermelho) e com nenhuma informação favorecendo, a probabilidade deve ser 1/2... mas o princípio poderia ser igualmente aplicado as cores azul e verde, além do vermelho... mas eles não poderiam ter a probabilidade de 1/2 cada um... qualquer avaliação precisa parece muito arbitrária.¹
De acordo com Walley, a resposta correta a se dizer seria "Eu não tenho nenhuma informação sobre a chance de pegar uma bolinha vermelha, então eu não vejo porque deveria afirmar ou negar que ela possa ser vermelha no fim das contas.

Walley então provê um diferente modelo de probabilidade que atribui, não com valores precisos as diferentes alternativas, mas com intervalos. Por exemplo, na ausência de qualquer informação sobre a cor das bolinhas no saco, o modelo atribui a probabilidade vácuo de 0 a 1 de pegar uma bolinha vermelha, que é só o que deveria ser para um estado de completa ignorância.

Aplicada a existência de Deus, o que isso significa é que na ausência de qualquer evidência, tudo o que devemos dizer é não temos uma opinião se Deus existe ou não. Isso não implica que a probabilidade da existência de Deus seja 0.

A teoria do seu amigo lembra a de Rudolf Carnap em Logical Foundations of Probability (1951), em que Carnap tentou formalizar probabilidades prévias em termos de estados descritivos e estruturas de um sistema. McGrew comenta:
A tentativa de resolver probabilidades prévias de uma maneira objetiva usando estados descritivos e estruturas descritivas captura duas de nossas intuições: ela permite aprender pela experiência e endossa a ideia do senso comum de que na ausência absoluta de informação, seria temeroso ser adepto de um clamor complexo contingente. Mas isso tem muitos problemas que são bem conhecidos desde a publicação de Carnap Logical Foundations of Probability de 1951. Em particular, as probabilidades são relativas à linguagem usada na descrição - adicionando mais predicados, mais as probabilidades mudam, um fato que o próprio Carnap entendeu muito bem. Há outras abordagens à aprendizagem por experiência que não sofrem com esse defeito. Usar esse tipo de sistema artificial para aumentar a pressuposição contra a existência de Deus é realmente bastante cômico. 
Por William Lane Craig 

¹ Peter Walley, “Inferences from Multinomial Data: Learning about a Bag of Marbles,” Journal of the Royal Statistical Society B 58/1 (1996): 3-57, pp. 4-5

Extraído do site http://www.reasonablefaith.org 
Traduzido pelo blog Forte Fundamento.
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