26 de julho de 2013

E os livros apócrifos?


Por Leandro Duarte

Antes que venham as perguntas, já as respondo: apócrifos são aqueles livros (Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico e a Epístola de Jeremias) e acréscimos (aos livros de Daniel e  Ester) não aceitos no cânon original do Antigo Testamento. Foram incluídos em 8 de Abril de 1546 no polêmico Concílio de Trento pela Igreja Católica para apoiar os dogmas que não tinham respaldo bíblico,  e que estavam sendo alvo das críticas de Martinho Lutero.

Lutero era monge católico e, em virtude principalmente de um profundo estudo da carta de Paulo aos Romanos, viu que muitos dogmas da Igreja Católica não estavam de acordo com a Palavra de Deus. Uma das respostas da Igreja foi a inserção desses livros, que seriam usados posteriormente contra os ataques da Reforma Protestante.

Mas onde esses livros erram?


Wayne Grudem, teólogo e PhD pela Universidade de Cambridge, destaca pelo menos quatro motivos:
- Nenhum deles reivindica inspiração divina. Não encontramos a famosa citação bíblica: "assim diz o SENHOR" em parte alguma. A expressão, ou variações dela, aparece cerca de 3,800 vezes em toda a Bíblia.
- Não foram considerados Palavra de Deus pelo povo judeu. Já nos tempos de Jesus, a lista dos livros inspirados pelo Espírito Santo - o cânon - já estava fechado (Lc 24.27). Nenhum desses livros, ou acréscimos, entrou.
- Não foram considerados como Escritura por Jesus, tampouco por qualquer outro escritor neotestamentário. Não encontramos reivindicação como "Palavra de Deus" pelos autores do Novo Testamento de qualquer dos livros apócrifos acima como encontramos a citação de Joel em Atos, ou de Isaías em Mateus, por exemplo.
- Contém ensinamentos que estão em desacordo com os demais livros da Bíblia ou erros cronológicos, históricos e geográficos. Vejamos alguns: 
• Judite e Tobias contém erros históricos, cronológicos e geográficos;
• Sabedoria diz que o mundo foi criado a partir de matéria que já existia. A Bíblia nos ensina que Deus criou o mundo ex-nihilo (lit. do nada)
"Não era difícil à vossa mão todo-poderosa, que formou o mundo de matéria informe..." (Sabedoria 11.17) 
• Eclesiástico e Tobias ensinam que esmolas resultam em expiação de pecados;
"A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado." (Eclesiástico 3:33)
"...esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna" (Tobias 12.8,9)
 II Macabeus e Baruc ensinam que Deus ouve oração dos mortos;
"era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas." (II Macabeus 12.46)
"Senhor, todo-poderoso, Deus de Israel, escutai a prece dos mortos de Israel..." (Baruc 3.4)
• I Macabeus contém erros históricos e geográficos;
• No fim do livro de II Macabeus, o escritor pede desculpa pelos erros que cometeu. Se a Bíblia é inspirada pelo próprio Deus, como pode seu autor se desculpar por algum eventual erro?
"...finalizarei aqui minha narração. Se ela está felizmente concebida e ordenada, era este o meu desejo; se ela está imperfeita e medíocre, é que não pude fazer melhor." (II Macabeus 15.37,38)
• Judite também foi escrito em grego e sua história se passa na Babilônia entre os anos de 626 a 668 a.C. A questão é: como a história pode ser verdade se nesse momento da história nem mesmo há notícia da propagação dos gregos? Além disso, o livro ainda narra a história de uma mulher que jejuou a vida toda!
"Ela tinha feito no andar superior de sua casa um quarto reservado para si, no qual se conservava retirada com suas criadas.Trazia um cilício sobre os rins e jejuava todos os dias de sua vida, exceto nos sábados, nas luas novas e nas festas do povo israelita." (Judite 8.5,6)
Jesus é taxativo quando diz: "A Escritura não pode falhar" (Jo 10.38)

Além dos quatro motivos pelos quais esses livros não pertencem a Palavra de Deus original, existem diversos outros:

- É fato que existem citações de alguns livros apócrifos no NT, como é o caso do Livro de Enoque (não incorporado no cânon) presente na carta de Judas, mas isso não confere à ele autoridade divina, até porque também existem citações de poetas pagãos em algumas cartas de Paulo;
- Muitos dos grandes pais da Igreja Primitiva (tais como Melito, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio) foram terminantemente contra os apócrifos. Nenhum dos primeiros pais "de envergadura", anteriores a Agostinho, aceitou todos os livros inseridos em Trento;
- Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata Latina (primeira tradução do grego para o latim), rejeitou fortemente os livros apócrifos;
- Há evidente ausência de profecia em quaisquer deles;
- Nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas;
- Muitos teólogos católicos romanos despuseram contra a inserção desses livros no período da Reforma;
- O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados, recusou-os terminantemente.
- Nenhuma igreja ortodoxa grega, protestante ou anglicana, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados ou canônicos, no sentido integral dessas palavras;
- Flávio Josefo, grande historiador judeu contemporâneo aos apóstolos, negou a inspiração deles.

Bem, em suma, temos muitos motivos para acreditar que quaisquer dos 8 livros (ou dos 3 acréscimos) incorporados bem depois do fechamento do cânon bíblico não correspondem àquilo que os próprios apóstolos (e o próprio Cristo) tinham em mente quando recorriam ao Antigo Testamento como a Palavra de Deus. E você, os têm como divinamente inspirados e equivalente aos demais 39 livros da antiga aliança?


Pesquisado em:
GEISLER, Norman; NIX, William; Introdução Bíblica. 1.ed. São Paulo: Vida, 2006.
MELO, Édino ;100 Respostas Bíblicas para o Catolicismo. São Paulo: Ferramenta.
LAÉRTON, José; Apócrifos ou Pseudoepígrafes, livros não inspirados, adicionados por Roma. Disponível em: 
http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-InspiracApologetCriacionis/ApocrifosOsLivros-Laerton.htm. 07/2013

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